"Os contos de fadas, considerados por pais e educadores até pouco tempo como "irreais", "falsos" e cheios de crueldade; são para as crianças, o que há de mais real, algo que lhes fala, em linguagem acessível, do que é real dentro delas. Os pais temem que os contos de fadas afastem as crianças da realidade, através de mágicas e fantasias. Depois que a psicanálise desmistificou a "inocência" e a Simplicidade" do mundo da criança, os contos de fadas voltaram a ser lidos e discutidos, justamente por descreverem um mundo pleno de experiências, de amor, mas também de destruição, de selvageria e de ambivalências. A psicanálise provou que, na verdade os pais temem que os filhos os indentifiquem com bruxas e monstros, ogros e madrastas e, em consequência, deixem de amá-los."
"Os contos de fadas sofreram uma crítica
severa quando novas descobertas da psicanálise e da psicologia infantil
revelaram o quanto a imaginação da criança é violenta, ansiosa,
destrutiva e até mesmo sádica. Partindo deste conhecimento, deveria ser
fácil reconhecer que os contos de fada falam à vida mental interior da
criança. Mas, em vez disso, os céticos proclamaram que estas histórias
criavam, ou pelo menos encorajavam muito, estes pensamentos conturbados.
Baniram os contos de fadas tradicionais
e folclóricos e decidiram que, havendo monstros numa estória narrada á
criança, deveriam ser todos amigáveis - mas se esqueceram que do monstro
que a criança conhece melhor e com o qual mais se preocupa: o monstro
que ela sente ou teme ser, e que algumas vezes a persegue. Mantendo esse
monstro dentro da criança, sem falar dele, ou escondido no inconsciente
dela, os adultos impedem-na de elaborar fantasias em torno da imagem
que conhecem nos contos de fadas. Sem estas fantasias, a criança não
consegue conhecer seu monstro melhor, nem recebe sugestões sobre a forma
de conseguir controlá-lo. Em consequência, fica impotente face ás suas
ansiedades - muito mais do que se tivesse ouvido contos de fadas que dão
corpo e forma a estas ansiedades e mostram os meios de vencer estes
monstros. Se nosso medo de ser devorado toma a forma tangível de uma
bruxa, podemos nos livrar dela queimando a bruxa no fogão."
Bruno
Bettellheim, A Psicanálise dos Contos de Fadas
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